Continuava na sala de bate papo, não com a mesma frequência, não tinha o mesmo ânimo, nem a mesma expectativa de encontrar alguém que valesse a pena. Comecei a entrar com outros nomes (coisa que não fazia até então) e a jogar conversa fora, omitindo fatos, idades, ou seja, era um passatempo prosaico. E foi numa dessas brincadeiras que o destino me pegou. Conheci Júlio, meu marido, faz 10 anos. Era um sábado, duas horas da tarde, e eu estava saindo do trabalho. Foi uma conversa recheada de besteirol, muito mais pornográfica do que amistosa ou inteligente. Nem sei porque ele me pediu o telefone antes que saíssemos da sala de bate papo, nem sei porque eu dei, e nem sei porque ele me ligou na hora, só sei que nos falamos por 2 horas. Ele era de Brasília, separado recentemente, com um filho e pensando em ir embora para os EUA. Cinco anos mais novo que eu, bem humorado, altíssimo astral, e muito inteligente.
Conversávamos como se fossemos velhos conhecidos. Nossa relação por muito tempo foi pautada apenas na amizade, nenhum de nós dois permitiu que ela se desviasse para outro caminho. E, talvez por isso, surgiu uma enorme confiança entre nós, conversávamos sobre tudo, dividíamos tudo, nossos problemas, nossas conquistas, nossas dúvidas e anseios.
Virtualmente, nos tornamos cúmplices e parceiros. Até que um dia, depois de uns três meses, liguei para lhe dar os parabéns pelo seu aniversário, e quem atendeu o celular se identificou como sendo sua esposa. Só aí entendi que estava apaixonada por ele. Sofri, e não o procurei mais, não entrei mais na net, não atendi mais seus telefonemas. Ele ficou desesperado, mandava milhões de emails se justificando, ligava sem parar, e aí eu entendi que ele também estava muito mais envolvido do que imaginava. Ele me disse que voltara para esposa fazia menos de um mês e só por causa do filho, e que não me contou com medo de que eu sumisse, pois seus momentos de paz e alegria se resumiam à minha companhia virtual. Resolvi não desistir dele. Voltei a ligar, a escrever, voltamos a compartilhar as nossas vidas. Em pouco tempo ele se separou definitivamente. Resolvi esperar um pouco antes de ir ao seu encontro, queria ter certeza do final do seu casamento. Foram mais três meses.
Desci no aeroporto tremendo por dentro e por fora. Ele me esperava sorrindo e eu tive a certeza que dessa vez era para valer. Nosso encontro foi uma das coisas mais bonitas que tenho na lembrança. Viajamos sozinhos e desse dia em diante nunca mais nos separamos. Curioso que em nenhum dos meus outros encontros eu fui sozinha, tinha o cuidado de me proteger, mas com ele não, ele já estava mesmo no meu destino. Ele se mudou para minha cidade, meus filhos ganharam um paizão e eu um amor, um companheiro, um amigo, um amante, um cúmplice. Temos uma filha linda de sete anos.
Eu sempre aconselho as pessoas a entrar nas salas de bate papo da internet, a enfrentar a famosa tela fria do computador porque do outro lado pode ter, senão um amor, uma boa companhia, um bom amigo. É muito mais fácil encontrar pessoas afins em um ambiente virtual do que em um bar lotado de pessoas. É claro que pode acontecer das pessoas estarem ali mentindo, enganando, brincando, mas e nas noites, isso não ocorre?
Eu sou um exemplo real, e conheço vários outros de que investir em um relacionamento virtual vale à pena. E descobrir que a tela fria do computador pode não ser tão fria assim. OBS: JAMAIS VÁ A UM ENCONTRO VIRTUAL SOZINHO(A), NUNCA SE SABE O QUE PODE ACONTECER, MARCELA ARRISCOU-SE MUITO, MAS QUE BOM QUE DEU CERTO.
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