Cláudia e Ernani estão juntos há seis anos. Eles se
conheceram após um acidente de moto sofrido pela mulher quando ela tinha 25
anos. Socorrida de forma incorreta, acabou tetraplégica. Depois de um
tratamento especializado, ela recuperou parte dos movimentos dos braços, mas
precisa de ajuda para qualquer tipo de ação. Vizinho de Claudia, Ernani se
interessou pela história de superação e resolveu se aproximar.
"Quando acontece um caso como o dela, a maioria das
pessoas abandona, larga. E eu vejo diferente. Aconteceu. A pessoa precisa de
mais atenção, de mais ajuda", salienta o marido.
E quando a jovem acreditava estar tudo perdido em sua vida e
seu mundo restringido a uma cadeira de rodas, uma linda história começou a se
desenhar. Quase 7 anos após o acidente,
uma amizade de infância se resultou numa história de amor. Mesmo sabedor de que a jovem estava
impossibilitada de levantar da cadeira de rodas, Ernani Dreher, nove anos mais
novo que ela, se apaixonou pelo jeito meigo de Claudia e passaram a
namorar. “Sempre conversávamos. Ele
começou a vir aos sábados na minha casa e com o passar dos tempos vinha me ver
com mais frequência. Pediu se podia
continuar vindo e eu disse que sim.
Depois começou a mandar mensagens pelo celular e mais tarde o pedido de
namoro. Quando meus pais ficaram sabendo, não gostaram da ideia e resistiram um
pouco, já que acharam que se tratava de uma brincadeira de mau gosto e que
dificilmente alguém se interessaria por mim. Meu pai explicou minha situação
para ele e o Ernani disse que mesmo assim queria ficar comigo, por isso digo que
ele é mais que um marido e sim um anjo”, contou em lágrimas. Assim, faz sete
anos que Claudia encontrou uma pessoa que a ama e que a dá valor mesmo sabendo
de suas limitações físicas. "Antes do acidente eu até pensava nisso
(casamento), depois eu pensava que ia acabar sozinha. Mas aí ele
apareceu", ressalta.
Hoje aos 39 anos, Cláudia Nass realizou o sonho de ser mãe em Crissiumal, na Região
Noroeste do Rio Grande do Sul. Vitor Davi nasceu em abril deste ano, provando
que obstáculos podem ser superados. A mulher é tetraplégica, mas a gravidez foi
autorizada pelos médicos. O pai, Ernani Dreher, agora se desdobra em cuidados
ao filho e a mulher. "Veio para fazer a nossa alegria",
Ela chegou a sentir as dores do parto e algumas contrações e
dilatação, mas não tão intensas. A cesárea foi feita sem nenhuma complicação e
o menino nasceu pesando dois quilos e setecentos e dez gramas, com 46
centímetros de comprimento. Na região, é
o primeiro caso de uma mulher tetraplégica que consegue dar a luz a uma
criança. “Me sinto realizada demais. Acho que só quem é mãe sabe como isso é
maravilhoso. E para mim então, que parecia ser impossível, isso é bom demais.
Eu sempre sabia que iria dar tudo certo. Tive muita esperança”.
Com Vitor Davi próximo de seus braços, ela o amamenta e acaricia.
Emocionado, o pai Ernani Dreher esbanja sorrisos. “Ele ficou mais louco de alegria do que eu. O
resultado do exame ficaria pronto às 16 horas e às 16 horas e 05 minutos ele já
me ligou. Acho que ele estava esperando no laboratório”, contou Claudia,
sorrindo.
Atualmente, só o pai ajuda a cuidar do bebê. Claudia não tem
direito a auxílio maternidade, por ser aposentada, já que o INSS não concede
dois benefícios a uma pessoa. “Se o
Ernani sair para trabalhar temos que pagar alguém para cuidar de nós dois e
isso não compensa. Ele precisa ajudar além do bebê a mim também. Uma mulher
talvez não conseguiria me cuidar, porque precisa de força para tirar e colocar
na cama. Mas possivelmente no próximo mês vamos ter que arrumar alguém, para
que ele possa voltar a trabalhar”, relatou.
Para ajudar os pais, Vitor Davi é um bebê extremamente calmo
e dorme muito bem, não exigindo muito de Ernani. “Trocar fralda, pegar no colo,
tirar do berço, são coisas simples, mas que eu não consigo fazer”, comenta
Claudia. Emocionada, ela diz que Ernai é mais quem um marido e sim um
anjo. Apesar de Vitor ser calmo, o pai
coruja diz que se precisar levantar 20 vezes durante a noite, ele fará com
gosto. “A sensação de ver ele pela primeira vez é única. Escutar o choro dele é
inexplicável. É sem dúvidas algo maravilhoso e não me importo com todas as
tarefas que tenho que fazer. Sempre digo que tenho dois bebês em casa que
precisam de mim. Cuido da Claudia e do bebê.
É um esforço que vale a pena. A Claudia amamenta, o resto eu faço tudo
com amor”, disse ele.
E as aspirações de Claudia não param por aí. De momento,
Vitor é sua prioridade, só que mais tarde, ela quer continuar as fisioterapias
e tratamentos para tentar voltar a andar. Ela chegou a questionar a
possibilidade de recolher as células tronco do cordão umbilical da criança, mas
uma médica disse que isso só vem sendo usado para curar a própria criança de
uma doença rara. “Não serve para curar uma lesão medular como a minha. Mas
quero tentar um tratamento existente na
Bahia, que tem dado bons resultados. Agora a prioridade é meu filho”, concluiu.
Enquanto isso, o casal curte a nova experiência, reforçando
ainda mais os laços familiares formado entre pai, mãe e filho.
"Eu queria ajudar mais a Cláudia, mais do que eu
ajudo", diz o pedreiro. "Se ela tivesse uma cadeira motorizada seria
uma grande ajuda para ela. Todo mundo sabe que a cadeira é cara",
completa.
Com Vitor Davi nos braços, Cláudia comemora as vitórias
conquistadas e se prepara para novos desafios. "Hoje sou praticamente
realizada. Tem coisas que eu ainda quero fazer, mas fica para depois, quando
ele (filho) for maior. Eu sei que aos poucos vou conseguindo. Já consegui tanta
coisa", resume..